terça-feira, 30 de setembro de 2008

“LIVRO SOBRE NADA” de MANOEL DE BARROS



Foi certa vez um sarau.
No sarau apareceu um poema.
O poema falou comigo.
Desejei provar o livro.
No livro deliciei mais.
Ofereço para vocês
O poema que apareceu
Mais outros belos algos.

O poema que apareceu foi assim.

A ciência pode classificar e nomear todos os órgãos de um sabiá
mas não pode medir seus encantos.
A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem
nos encantos de um sabiá.

Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare.

Os sabiás divinam.


Seguem alguns trechos que mais ecoaram em mim.

“Choveu de noite até encostar em mim. O rio deve estar mais gordo. Escutei um perfume de sol nas águas.”

Adorei isso: "Escutei um perfume de sol nas águas." Lindo demais!

“É no ínfimo que eu vejo a exuberância”
Este na realidade é o último verso de um poema...

"Tem mais presença em mim o que me falta."
Este é como que um aforismo...

E ainda no livro, há uma citação tirada do livro do Padre Antônio Vieira chamado “Paixões humanas” que me tocou.
“O maior apetite do homem é desejar ser. Se os olhos vêem com amor o que não é, tem ser.”

"Nasci para administrar o à-toa
o em vão
o inútil.
Pertenço de fazer imagens.
Opero por semelhanças.
Retiro semelhanças de pessoas com árvores
de pessoas com rãs
de pessoas com pedras
etc etc.
Retiro semelhanças de árvores comigo.
Não tenho habilidade pra clarezas.
Preciso de obter sabedoria vegetal.
(Sabedoria vegetal é receber com naturalidade uma rã no talo.)
E quando esteja apropriado para pedra, terei também sabedoria mineral."


Gostei tanto assim pois casou com inquietações que tenho e que a filosofia avivou...
Das firmes fronteiras que existiriam entre o homem e o animal e o vegetal e o mineral...
Dos cinco sentidos, por que cinco, por que esses, por que não outros, por que cinco caixinhas separadinhas com rótulos bonitinhos, visão, audição, tato, paladar, olfato, mas... Mas o que sinto, o que sou é tão um e não apenas esses!...
Da ciência que acha que tudo sabe e tudo resolve e tudo descobre mas é incapaz de acolher o mundo em sua beleza, fragilidade e força...
Enfim...

É um belo livro e uma leitura cativante!!!

Ps: estou tentando devolver o livro emprestado...

PRIMAVERA E BUGANVÍLIAS

O tempo pode até não passar, como falam alguns filósofos - segundo eles, o tempo se "temporaliza", que é seu modo próprio de ser tempo, só com maiores explicações mesmo... -, mas já faz um mês que não soltei nenhuma borboleta... Voltei às aulas, o tempo sumiu, que pena... Enfim, aqui estou!

Hoje gostaria de comemorar com vocês a chegada da primavera!!! Em Salvador é assim: quando chega a primavera, a gente sabe logo, já não faz mais aquele friozinho gostoso para dormir, tem que abrir a porta ou a janela para ventilar melhor, as mangas das camisas já se tornam supérfluas ou até desconfortáveis, finalmente acabaram ventanias e chuvaradas, chegou a primavera!!!


E meu encanto agora, depois das mangueiras de Agosto, são as buganvílias, que com certeza têm um, ou vários, nomes mais populares, mas confesso que não os conheço...

Aliás, não os conhecia mas agora já fui e já voltei e trago da mina de informações chamada google um pequeno parágrafo educativo:

De origem brasileira, a primavera (Bougainvillea spectabilis, Bougainvillea glabra) - também conhecida como buganvília, ceboleiro, três-marias ou flor-de-papel - é uma espécie rústica, que exige poucos cuidados. Seu nome foi dado em homenagem ao francês Louis Antoine Bougainville, que a descobriu em nosso país, por volta de 1790, e a levou para a Europa, onde ela se tornou famosa e se difundiu para o resto do mundo.

Até parece que foi o francês que a criou, para dar-lhe seu nome... Esses franceses não são fáceis...
Apesar de não saber o que significa "spectabilis" em latim, me veio agora de gostar de pensar que seja "espetacular", pois é realmente um espetáculo que enche meus olhos e meu ser de beleza e contentamento quando, de repente, avisto uma dessas!!!

Chega de suspense, lá vai um exemplar da tal "bugainvillea spectabilis".



Nessa foto, que tem toda a cara de casa portuguesa, a buganvília é das comportadas mas está tão exatamente no auge de sua escandalosa fartura que não pude resistir!

Tampouco resisti a esta, quase igual, até parece a mesma casa portuguesa!!! Tão charmosa!!!

Mais uma, mais comportada ainda, coitadinha, tesourada para fazer as vezes de cerca viva pois a buganvília tem espinhos ferozes! Mas o bom dessa foto é que dá para ver as várias cores que existem, todas lindas!


Lá vem a última das comportadas, civilizadas, enfeitando uma casa, mas ela já está com o pé na turma das malucas, das selvagens, das indomadas, das escandalosas, espalhafatosas, maravilhosas!!!

Essas que são as que mais forte e profundamente me emocionam: mais se assemelham a um misto de fogo de artifício com cachoeira pois tanto se lançam para o céu com todo o viço como em seguida pendem para o chão como cascatas de vida colorida!!! E tão fartas, tão fortes, tão majestosas, tão imponentes, tão vivas enfim!!! Ai, que prazer que dá deparar-se com uma beleza dessas nas ruas da cidade!!!


A Waldemar Falcão, que estou usando esses dias, está cheia dessas obras-primas, a estrada de São Lázaro tem belíssimos exemplares, a Garibaldi também!

Então, olho vivo, aberto para a emoção!!!


Deixei essa buganvília gigante, fenomenal, para o "gran finale", para fechar com chave de ouro nosso passeio primaveril, e, voltando à filosofia, se o mundo e tudo que há nele são meros frutos do acaso, que acaso mais fascinante!!! A gente até entende que alguns tenham desejado dar-lhe nome peculiar, e o tenham chamado de divino ou de sagrado!!!



Bela primavera para todos,!!! Todos nós e todos que não são nós!!!