segunda-feira, 28 de julho de 2008

MERLEAU-PONTY E HUMILDADE

A tempo, ou não...
Acabei de assistir a palestra sobre Merleau-Ponty na Aliança Francesa, cuja primeira parte foi a apresentação, nas grandes linhas, do livro A Fenomenologia da Percepção, pelo professor Monclar Valverde. O pensamento do Merleau-Ponty, ao menos na obra apresentada muito rapidamente, parece extremamente próximo de Ser e Tempo de Heidegger, e aparentemente com mais desdobramentos, ou seja, fantástico, fascinante, empolgante, apaixonante! Então, o que quero falar com humildade, é que, na realidade e de repente, o mundo já tem pensamentos novos e vigorosos, mas talvez precise de mais pessoas compartilhando, dialogando com e sobretudo VIVENDO esses pensamentos novos e vigorosos!!! E quero ser uma dessas!!!

E vai ter um colóquio sobre Merleau-Ponty, de 25 a 29 de Agosto, aqui em Salvador, em São Lázaro para as mesas redondas durante o dia, e na Aliança Francesa à noite para as palestras maiores, tem que fazer inscrição!!! Era isso, vamos!!!

ENCONTRO COM A FILOSOFIA

Há muito eu falava em estudar filosofia, acreditando saber do que estava falando... Isso até um ano e meio atrás, quando me tornei efetivamente estudante do Departamento de Filosofia de nossa conceituada Universidade Federal da Bahia, e lá descobri que, como fala o popular, “o buraco é mais embaixo”. Explico: logo ficou óbvio que o que eu achava ser filosofia, ou seja, uma reflexão mais aprofundada sobre tudo, era apenas a parte visível do iceberg!
Se alguém me pedisse hoje para definir a filosofia – pensem num cara mau!-, eu diria, do alto de três enxutos semestres de estudo até aplicado, que a filosofia me fez rever meu conceito do que é o profundo. A busca filosófica mais me parece hoje uma mineração: ela fica cavando as profundezas de suas questões até não ter mais para onde ir. Aqui, e por ter filhos ainda pequenos com os quais assisti várias vezes o filme O Senhor dos Anéis-, me vem a imagem das entranhas das montanhas onde vive o povo dos Anões, extraindo o ouro e outros metais preciosos mas, ao ultrapassar os limites por ganância, também despertando temíveis criaturas há muito esquecidas...

Neste ponto, deixo registrada minha angústia: qual será o perigo, para mim, da filosofia? Não voltar da viagem ao centro do tudo por ter descoberto que lá não tinha nada? Não saber mais a diferença entre a descida ao inferno e a subida ao paraíso, entre o bem e o mal, entre o feio e o belo, entre você e eu, entre o vivo e o não vivo? Não saber nem mais o que quer dizer a palavra “diferença”? Ou seja, perder os sentidos ao buscar o Sentido?
Ou a filosofia me trará algum alívio? Desde que me entendo como gente, sempre tive pensamentos peculiares, dificilmente compartilháveis e raras vezes compartilhados, enfim, uma forma de ver o mundo diferente, digamos, da forma dominante. Senti nestes últimos meses nascer alguma esperança, a de ter mais alguns companheiros de viagem – de viagens?-, sejam eles os autores de obras ou idéias filosóficas tais como Heráclito, Platão, Nietzsche ou Heidegger ou meus pares nas cadeiras da universidade – não adianta insistir, desses últimos não darei nomes!
Voltando à minha ingênua tentativa de definir a filosofia, eu diria que, além de ser mineração, ela também é lapidação. O filósofo que extrair, do labirinto em várias dimensões que é seu pensamento, uma hipótese, uma idéia, uma teoria, terá, por conta da exigência acadêmica aliada aos questionamentos de seus pares, de fundamentar, esclarecer, refinar este fruto de sua intuição e reflexão até deixá-lo tal qual uma gema preciosa lapidada, brilhando de mil facetas!
Mas vamos deixar por aqui essa história de minas, pedras preciosas e diamantes, senão todos vão começar a pensar que, no Brasil, só mineiro que pode ser filosófo!!! Êta, piada besta!!!

Deixo também registrado aqui um receio que tenho quanto ao ensino da filosofia. Os estudantes obviamente precisam tomar conhecimento das obras dos grandes pensadores mas será que a filosofia se resume à história da filosofia? Pois, em momento algum até agora, percebi espaço aberto em sala de aula para discutirmos qualquer idéia própria! Aliás, já ouvi docente dizer em alto e bom tom que ninguém está interessado no que os estudantes pensam: a tarefa seria portanto impregnar-se com pensamentos já confirmados como fundamentais, e só. Então, pergunto: a filosofia é um saber positivo? Estudar filosofia então não passa de uma “decoreba” de conceitos alheios para, no máximo, poder expô-los brilhantemente em um seminário ou em uma tese de mestrado ou doutorado? Minha resposta é um retumbante “Não” pois me parece que, sendo aprendizes-pensadores, não podemos apenas ficar gravando conceitos aristotélicos ou kantianos. No entanto, repito, não se trata de modo algum de descartar estes estudos - nem tanto ao céu nem tanto à terra!-, pois estamos seguros da imensa valia do acesso a outras análises de mundo...
Mas a filosofia, e portanto seu estudo, não é também, como já ouvi dizer e já li em algum texto também famoso, desenvolver um diálogo com estes pensadores famosos? Resumindo meu receio quanto ao ensino da filosofia: somos preparados para sermos meros repetidores, eruditos estudiosos de obras filosóficas, ou existe alguma esperança de podermos um dia dar à luz pensamentos nascidos do vibrante encontro de pensamentos notáveis com nossas humildes reflexões sobre o mundo contemporâneo?



Pois tenho que deixar claro que minha aventura na filosofia nasceu das questões da contemporaneidade, do mal estar profundo que todos podemos perceber em nós mesmos, ao nosso redor e em todo nosso pequeno e grande planeta. E esta crise aguda parece-me clamar por pensamentos novos e vigorosos, outros modos de conceber a realidade, outras posturas e comportamentos do homem com o homem e com o mundo... O fato é que alguma coisa está podre no reino da humanidade e penso que cabe a nós, humanos, tentar desvendar e enfrentar esta crise com todo nosso empenho antes que seja tarde...
E minha última pergunta por hoje, a pergunta central para mim, é esta:
SERÁ QUE A FILOSOFIA PODE NOS AJUDAR?

domingo, 20 de julho de 2008

DICAS PARA RECICLAGEM DE LIXO

Complementando sobre reciclagem de lixo, penso que todo e qualquer pedacito de lixo -papel, plástico, vidro, metal, o que for- que desviamos do aterro sanitário é uma grande vitória! Pense bem: além de não engordar as sinistras montanhas do aterro chamado sanitário, ainda vamos economizar recursos naturais e humanos para produzir outras coisas, incrível, não?
Para nos ajudar nesta nobre tarefa, temos em Salvador várias cooperativas de recicladores de lixo, o figurino manda entrar em contato com a cooperativa mais perto de sua casa para reduzir o custo do transporte, a pesquisa do Google ajuda a localizar as cooperativas da cidade.
Insisto em outro ponto, não são apenas os maiores consumidores que podem e devem reciclar, todos podemos e devemos reciclar: quem de nós não usa sacos de plástico, garrafas de refrigerantes, latinhas, jornal de vez em quando e por aí vai? Então, não importa onde e como você mora, é só você se juntar com os vizinhos para ter um certo volume de recicláveis que aí a cooperativa vem buscar! Eles normalmente fazem algumas recomendações para o lixo não ocupar muito espaço no caminhão, tipo desmontar e dobrar caixas por exemplo, pois o transporte custa caro.
Era isso, e, para concluir, junto minha voz à do Gandhi numa idéia que prezo muitíssimo:
"Sejamos a transformação que queremos ver no mundo"!

ARTE COM TAMPINHAS PLÁSTICAS

Pois é, para início de conversa, concordo: sempre se pode perguntar se é arte... Uns acham arrasador de lindo, outros medonho de horroroso, paciência, sem surpresa, cada cabeça é um mundo, isso, a gente já sabia...
O que eu posso garantir é que, como tudo na vida que fazemos para valer, tem sido uma aventura singela! E esta aventura começa com a pena que eu tinha de jogar fora e de ver jogar fora, sem mais nem menos, as tais das tampinhas de garrafas plásticas de bebidas: eu achava um objetinho redondinho bonitinho, vale dizer que adoro a figura de círculo, mas isso fica para outro escrito. Achava também seu plástico mais encorpado, me parecia concebido para uma vida mais longa, para mais histórias.
Na realidade, muitos objetos no mundo de hoje me deixam assim perplexa com o que fazer com eles depois do uso, de única vez ou múltiplas, para o qual eles foram planejados: cabos de escovas de dentes –particularmente os de plásticos coloridos translúcidos-, corpos e tampas de canetas, papeis de presente, caixas de sapatos, vidros de conservas e todas as embalagens... Penso que todos deveríamos ir ao menos uma vez por ano “visitar” o aterro sanitário de nossa cidade para tomar a medida -a desmedida!- de nosso lixo! Ver na tela da televisão não basta para darmos o estalo, tem que ver com os próprios olhos as montanhas de lixo e sentir com o próprio nariz o insuportável fedor...

O que acontece também é que fico “viajando” na fabricação, de A a Z, de todos esses objetos. No caso específico de minhas tampinhas, quantos operários, engenheiros, químicos, artistas, criadores, designers, marqueteiros, se debruçaram em seus poços de petróleo, tubos de ensaios, pranchetas, monitores, para chegar até elas, redondíssimas, densas, eficientíssimas, quase infindáveis, e também coloridas, atraentes, sedutoras? E toda essa inteligência e matéria prima vão, depois de um único uso, parar no aterro sanitário? Isso no melhor dos casos, porque achei tantas nas ruas e nas praias!!! E aí, onde estiverem, vão demorar séculos para desintegrarem-se? E é isso mesmo? Está tudo bem para todo o mundo? Concordo não!!!

Aí, comecei a pensar em qualquer coisa que se poderia fazer para, ao mesmo tempo, poupar nosso ambiente e salvar algumas dessas tampinhas do esquecimento prematuro. Minha primeira idéia era colar ou pregar as tampinhas numa placa de compensado para formar alguma figura colorida, parecia muito trabalhoso mas, ainda na dúvida, comecei a juntar as tampinhas.
Neste início da caça às tampinhas, arrastei comigo em minha inofensiva obsessão alguns amigos e familiares. Volta e meia, minhas filhas, uma adolescente e a outra quase adolescente, me censuravam ao pegar-me em flagrante de badameirismo nas ruas da cidade: “Minha mãe, se controle” ou “Tá sujésima, esta tampinha!” Meu filho, ainda criança mesmo, curtia a “catação” e apontava para mim os tesouros despercebidos!
Já não me lembro de como veio a idéia de enfiar as tampinhas num fio de náilon, mas lembro que o projeto era fazer uma cortina de porta, como tem de madeira, de sementes, todo mundo já viu uma dessas... Aí teve que ver como furá-las, dificuldade técnica, que foi resolvida com ferro de soldar, esta sendo uma tarefa enfadonha e fedorenta que confesso ter logo terceirizada...
Não tenho como contar a história das artes de tampinhas sem falar de todo o arco-íris de suas cores. As mais comuns são as translúcidas, as brancas e as azul marinho, todas meio sem graça mas ainda assim imprescindíveis para fazer os fundos das mandalas. As vermelhas já são mais raras e também essenciais para dar vida a qualquer desenho, será coisa de cor de sangue? Nessa escala do mais corriqueiro para o mais raro, seguem as aquáticas azul turquesa e as mimosas roxinhas, duas belas cores, refinadas, charmosas, acho que porque mistas de cores chamadas primárias! Confesso que já sofri paixão obsessiva por elas, chegando a usar de sedução com alguns garçons de restaurantes e barzinhos para conseguir alguns preciosos exemplares... Na categoria das mais raras, entram todas as verdes, floresta, rúcula e alface. Aqui, e apesar de envergonhada, tenho que contar que certa feita, cometi o disparate de comprar uma dúzia de fofas garrafitas de refrigerantes só por causa de suas verdes tampinhas! Mas era para uma grandíssima causa: a confecção da bandeira do Brasil para a copa do Mundo de 2006! Vejam a foto e convenham comigo: foram reais bem gastos!

Estamos finalmente nas preciosidades: as cor de laranja e as amarelas que, nas mandalas, darão o imprescindível toque de luz, na bandeira brasileira, nem se fala! As pretinhas são também dificílimas de encontrar e estão entre as minhas preferidas, não por sua cor para as artes mas sim pela divertida cara de gato gaiato desenhada encima!
Então, depois de ter juntado boa quantidade de tampinhas de todas as cores, tive a idéia das mandalas e aconteceu o que considero ser uma pequena mágica: centenas de tampinas à toa, sujando as calçadas, as praias, engordando nossas montanhas de lixo, transformam-se em bandeira do Brasil, em mandalas, em fuxico, em estrela, todas sendo suaves mensageiros do vento para os ouvidos e coloridos ímãs para o olhar!
Toda história tem uma moral, esta também tem. Se nós, humanos, ainda fôssemos ambientalmente corretos, não teria essa produção e consumo desenfreados de tantos sofisticados objetos descartáveis e poluentes, e seria muitíssimo melhor do que tentar reciclá-los... Mas, enquanto ainda somos irresponsáveis com nossa mãe terra, as mandalas de tampinhas dançam, cantam e brilham ao sabor do vento e do sol...

Agradecimentos
Agradeço a todos os amigos que me presentearam com pequenas safras e grandes tesouros de tampinhas, a Alex e Jane que furaram tantas tampinhas para mim, a Karla que montou a primeira cortina gastando o dedão da mão pois a técnica de furação ainda não estava apurada, a Hilda e Jane –ela de novo- que sempre realizaram a montagem das mandalas comigo, ou até “semigo” depois que comecei a estudar, a todos meu muito obrigado!!!