domingo, 26 de abril de 2009

PSICANÁLISE DOS CONTOS DE FADAS

O negócio é compartilhar.
Bettelheim, famoso psicanalista norte-americano de origem austríaca, escreveu em uma nota de rodapé na página 108 de sua interessantíssima "Psicanálise dos Contos de Fadas" -recomendo a leitura, nem que seja em diagonal-:
"Dar aos processos interiores nomes em separado -id, ego, superego- transformou-os em entidades, cada uma com suas próprias propensões. Quando consideramos as conotações emocionais que esses termos abstratos da psicanálise têm para a maioria das pessoas que os usa, começamos a perceber que essas abstrações não são tão diferentes assim das personificações do conto de fadas. Quando falamos do anti-social e irracional id empurrando o fraco ego, ou do ego obedecendo às ordens do superego, esses símiles científicos não são muito diferentes das alegorias do conto de fadas. Neste, a criança pobre e fraca se defronta com a poderosa bruxa que conhece apenas seus próprios desejos e age segundo eles, sem ligar para as consequências. (...)
Muitos erros de compreensão de como nossas mentes funcionam poderiam ser evitados se o homem moderno se mantivesse sempre consciente de que esses conceitos abstratos não são mais do que instrumentos convenientes para manipular idéias que, sem tal exteriorização, seriam muito mais difíceis de serem compreendidas. Na realidade, não há, é claro, nenhuma separação entre eles, assim como não há efetivamente nenhuma separação entre corpo e mente"
O grifo é meu...

O que mais me encantou na leitura da "Psicánalise dos contos de fadas"?
A idéia central do livro, seu refrão.
E a idéia é essa: que um conto, ou melhor, contos, fazem o jovem ouvinte ativo, ao passo que a explicação o faz passivo.
Isso porque a explicação é fechada em si, é didática, pretende saber, pretende ensinar uma solução já pronta, preparada por outra(s) pessoa(s). O conto, por sua vez, é aberto para uma busca pessoal de quem escuta a história, para toda e qualquer interpretação, que pode inclusive, e vai, ser diversa a cada escuta.
Esta idéia central é ilustrada e declinada ao longo do livro e, por conta desta essencial diferença, Bettelheim considera que os contos de fadas são o que há de mais apropriado para as crianças construírem inconscientemente seu equilíbrio psíquico.

Bem, logo eu, que adoro contos, só podia adorar esta idéia, não é?
E aí, também fiquei matutando se gente grande também não estava precisando de contos, para ativar um pouco a psiquê.
Sabendo que, até pouco tempo atrás no mundo inteiro -e até hoje em alguns lugares deste nosso mundo, lugares onde talvez ainda não haja televisão nem computador-, era costume gente grande, e pequena, se juntar para ouvir "causos", histórias, contos, ouvidos centenas de vezes e sempre repensados.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

DEPRESSÃO...

Se a depressão acometesse uma pessoa ou outra, raras, poderíamos dizer que é um problema puramente pessoal, psicológico puro, por assim dizer, mas não é o caso...

Se a depressão atingisse apenas mulheres, ou apenas homens, apenas jovens, ou apenas velhos, apenas pessoas morando em cidades, ou apenas quem mora no campo, apenas os financeiramente abastados, ou apenas os economicamente carentes, apenas pessoas do chamado primeiro mundo, ou apenas as do segundo ou do terceiro, poderíamos dizer que se trata de um problema de gênero, ou de faixa etária, ou socioeconômico, ou regional, mas não é o caso...

A depressão hoje atravessa todos esses grupos que acabamos de citar, ela varre o mundo, de norte a sul e de oeste a leste, cobre gêneros, idades, classes sociais, regiões geográficas, não poupa ninguém...

Por isso temos que pensar hoje a depressão em termos de mal estar mundial.

Temos que pensar em que raios estará faltando neste nosso mundial modelo contemporâneo de vida que esvazia de sentido a existência humana.

Esta é uma tarefa premente e desafiadora.

Esta é uma tarefa de pensadores.