
Se alguém me pedisse hoje para definir a filosofia – pensem num cara mau!-, eu diria, do alto de três enxutos semestres de estudo até aplicado, que a filosofia me fez rever meu conceito do que é o profundo. A busca filosófica mais me parece hoje uma mineração: ela fica cavando as profundezas de suas questões até não ter mais para onde ir. Aqui, e por ter filhos ainda pequenos com os quais assisti várias vezes o filme O Senhor dos Anéis-, me vem a imagem das entranhas das montanhas onde vive o povo dos Anões, extraindo o ouro e outros metais preciosos mas, ao ultrapassar os limites por ganância, também despertando temíveis criaturas há muito esquecidas...

Ou a filosofia me trará algum alívio? Desde que me entendo como gente, sempre tive pensamentos peculiares, dificilmente compartilháveis e raras vezes compartilhados, enfim, uma forma de ver o mundo diferente, digamos, da forma dominante. Senti nestes últimos meses nascer alguma esperança, a de ter mais alguns companheiros de viagem – de viagens?-, sejam eles os autores de obras ou idéias filosóficas tais como Heráclito, Platão, Nietzsche ou Heidegger ou meus pares nas cadeiras da universidade – não adianta insistir, desses últimos não darei nomes!
Voltando à minha ingênua tentativa de definir a filosofia, eu diria que, além de ser mineração, ela também é lapidação. O filósofo que extrair, do labirinto em várias dimensões que é seu pensamento, uma hipótese, uma idéia, uma teoria, terá, por conta da exigência acadêmica aliada aos questionamentos de seus pares, de fundamentar, esclarecer, refinar este fruto de sua intuição e reflexão até deixá-lo tal qual uma gema preciosa lapidada, brilhando de mil facetas!
Mas vamos deixar por aqui essa história de minas, pedras preciosas e diamantes, senão todos vão começar a pensar que, no Brasil, só mineiro que pode ser filosófo!!! Êta, piada besta!!!

Mas a filosofia, e portanto seu estudo, não é também, como já ouvi dizer e já li em algum texto também famoso, desenvolver um diálogo com estes pensadores famosos? Resumindo meu receio quanto ao ensino da filosofia: somos preparados para sermos meros repetidores, eruditos estudiosos de obras filosóficas, ou existe alguma esperança de podermos um dia dar à luz pensamentos nascidos do vibrante encontro de pensamentos notáveis com nossas humildes reflexões sobre o mundo contemporâneo?

Pois tenho que deixar claro que minha aventura na filosofia nasceu das questões da contemporaneidade, do mal estar profundo que todos podemos perceber em nós mesmos, ao nosso redor e em todo nosso pequeno e grande planeta. E esta crise aguda parece-me clamar por pensamentos novos e vigorosos, outros modos de conceber a realidade, outras posturas e comportamentos do homem com o homem e com o mundo... O fato é que alguma coisa está podre no reino da humanidade e penso que cabe a nós, humanos, tentar desvendar e enfrentar esta crise com todo nosso empenho antes que seja tarde...
E minha última pergunta por hoje, a pergunta central para mim, é esta:
SERÁ QUE A FILOSOFIA PODE NOS AJUDAR?

2 comentários:
Bom, você conhece meu pessimismo em relação ao mundo. E olha que eu nem estudei filosofia! Na verdade, eu penso em causa própria se o jornalismo pode ajudar alguém, além dos próprios jornalistas empregados. Hum!...acho que vou beber.
Christine, seria bom conversar contigo sobre um texto e uma entrevista sobre e com Porchat. Estão no final do livro "O Ceticismo e a Possibilidade da Filosofia" (Ijuí: Editora Unijuí, 2005).
Senti angústias assemelhadas... (embora me mantenha um típico conservador)
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