Pois é, muito recentemente, assisti um minicurso muito interessante sobre Hannah Arendt e mais precisamente sobre seu livro "A condição humana". O professor, também muito interessante, falou em vários momentos que tinha de se tomar cuidado para não considerar como iguais coisas diferentes e que este comportamento caracterizaria a falta de sensibilidade filosófica. Ele resumia esta atitude de, na fala popular, colocar no mesmo saco farinhas diferentes, com o dito popular bastante divertido "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa"...
Sim, mas será que a filosofia não tem feito isso durante séculos, colocar no mesmo saco farinhas diferentes? Ao tentar abstrair da realidade todas as particularidades -mas, de fato, escolhendo e privilegiando algumas destas-, ao distinguir categorias e espécies, ao enunciar leis universais, não foi isso que a filosofia, e sua filha, a ciência, fizeram, reduzir a multiplicidade das coisas do mundo, simplificar a complexidade, ordenar a confusão?
De fato, a arte é pisar com delicadeza na corda-bamba tensa entre a diversidade e a unidade , entre as diferenças e as semelhanças, entre os seres e as coisas não-humanas do mundo e o mundo como totalidade, entre eles, os bárbaros, e nós, todos os humanos, entre o outro e eu...
Então, sim, claro, "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa" mas também, tudo são coisas, tudo é um, pelo simples fato de existir, todas as farinhas juntas no mesmo e imenso saco que é o mundo...
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