terça-feira, 30 de setembro de 2008

“LIVRO SOBRE NADA” de MANOEL DE BARROS



Foi certa vez um sarau.
No sarau apareceu um poema.
O poema falou comigo.
Desejei provar o livro.
No livro deliciei mais.
Ofereço para vocês
O poema que apareceu
Mais outros belos algos.

O poema que apareceu foi assim.

A ciência pode classificar e nomear todos os órgãos de um sabiá
mas não pode medir seus encantos.
A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem
nos encantos de um sabiá.

Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare.

Os sabiás divinam.


Seguem alguns trechos que mais ecoaram em mim.

“Choveu de noite até encostar em mim. O rio deve estar mais gordo. Escutei um perfume de sol nas águas.”

Adorei isso: "Escutei um perfume de sol nas águas." Lindo demais!

“É no ínfimo que eu vejo a exuberância”
Este na realidade é o último verso de um poema...

"Tem mais presença em mim o que me falta."
Este é como que um aforismo...

E ainda no livro, há uma citação tirada do livro do Padre Antônio Vieira chamado “Paixões humanas” que me tocou.
“O maior apetite do homem é desejar ser. Se os olhos vêem com amor o que não é, tem ser.”

"Nasci para administrar o à-toa
o em vão
o inútil.
Pertenço de fazer imagens.
Opero por semelhanças.
Retiro semelhanças de pessoas com árvores
de pessoas com rãs
de pessoas com pedras
etc etc.
Retiro semelhanças de árvores comigo.
Não tenho habilidade pra clarezas.
Preciso de obter sabedoria vegetal.
(Sabedoria vegetal é receber com naturalidade uma rã no talo.)
E quando esteja apropriado para pedra, terei também sabedoria mineral."


Gostei tanto assim pois casou com inquietações que tenho e que a filosofia avivou...
Das firmes fronteiras que existiriam entre o homem e o animal e o vegetal e o mineral...
Dos cinco sentidos, por que cinco, por que esses, por que não outros, por que cinco caixinhas separadinhas com rótulos bonitinhos, visão, audição, tato, paladar, olfato, mas... Mas o que sinto, o que sou é tão um e não apenas esses!...
Da ciência que acha que tudo sabe e tudo resolve e tudo descobre mas é incapaz de acolher o mundo em sua beleza, fragilidade e força...
Enfim...

É um belo livro e uma leitura cativante!!!

Ps: estou tentando devolver o livro emprestado...

PRIMAVERA E BUGANVÍLIAS

O tempo pode até não passar, como falam alguns filósofos - segundo eles, o tempo se "temporaliza", que é seu modo próprio de ser tempo, só com maiores explicações mesmo... -, mas já faz um mês que não soltei nenhuma borboleta... Voltei às aulas, o tempo sumiu, que pena... Enfim, aqui estou!

Hoje gostaria de comemorar com vocês a chegada da primavera!!! Em Salvador é assim: quando chega a primavera, a gente sabe logo, já não faz mais aquele friozinho gostoso para dormir, tem que abrir a porta ou a janela para ventilar melhor, as mangas das camisas já se tornam supérfluas ou até desconfortáveis, finalmente acabaram ventanias e chuvaradas, chegou a primavera!!!


E meu encanto agora, depois das mangueiras de Agosto, são as buganvílias, que com certeza têm um, ou vários, nomes mais populares, mas confesso que não os conheço...

Aliás, não os conhecia mas agora já fui e já voltei e trago da mina de informações chamada google um pequeno parágrafo educativo:

De origem brasileira, a primavera (Bougainvillea spectabilis, Bougainvillea glabra) - também conhecida como buganvília, ceboleiro, três-marias ou flor-de-papel - é uma espécie rústica, que exige poucos cuidados. Seu nome foi dado em homenagem ao francês Louis Antoine Bougainville, que a descobriu em nosso país, por volta de 1790, e a levou para a Europa, onde ela se tornou famosa e se difundiu para o resto do mundo.

Até parece que foi o francês que a criou, para dar-lhe seu nome... Esses franceses não são fáceis...
Apesar de não saber o que significa "spectabilis" em latim, me veio agora de gostar de pensar que seja "espetacular", pois é realmente um espetáculo que enche meus olhos e meu ser de beleza e contentamento quando, de repente, avisto uma dessas!!!

Chega de suspense, lá vai um exemplar da tal "bugainvillea spectabilis".



Nessa foto, que tem toda a cara de casa portuguesa, a buganvília é das comportadas mas está tão exatamente no auge de sua escandalosa fartura que não pude resistir!

Tampouco resisti a esta, quase igual, até parece a mesma casa portuguesa!!! Tão charmosa!!!

Mais uma, mais comportada ainda, coitadinha, tesourada para fazer as vezes de cerca viva pois a buganvília tem espinhos ferozes! Mas o bom dessa foto é que dá para ver as várias cores que existem, todas lindas!


Lá vem a última das comportadas, civilizadas, enfeitando uma casa, mas ela já está com o pé na turma das malucas, das selvagens, das indomadas, das escandalosas, espalhafatosas, maravilhosas!!!

Essas que são as que mais forte e profundamente me emocionam: mais se assemelham a um misto de fogo de artifício com cachoeira pois tanto se lançam para o céu com todo o viço como em seguida pendem para o chão como cascatas de vida colorida!!! E tão fartas, tão fortes, tão majestosas, tão imponentes, tão vivas enfim!!! Ai, que prazer que dá deparar-se com uma beleza dessas nas ruas da cidade!!!


A Waldemar Falcão, que estou usando esses dias, está cheia dessas obras-primas, a estrada de São Lázaro tem belíssimos exemplares, a Garibaldi também!

Então, olho vivo, aberto para a emoção!!!


Deixei essa buganvília gigante, fenomenal, para o "gran finale", para fechar com chave de ouro nosso passeio primaveril, e, voltando à filosofia, se o mundo e tudo que há nele são meros frutos do acaso, que acaso mais fascinante!!! A gente até entende que alguns tenham desejado dar-lhe nome peculiar, e o tenham chamado de divino ou de sagrado!!!



Bela primavera para todos,!!! Todos nós e todos que não são nós!!!

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

QUE MANGAS COMENTADAS!!!

Gente, descobri - melhor tarde do que nunca! -, que todo brasileiro tem ao menos uma mangueira em seu coração/memória e muitas mangas na boca!!!
Adorei todos os comentários, de repente, todos mostraram um lado que eu não conhecia mesmo, entrei em uma nova dimensão de todos vocês, que louco, que lindo!
Me lembrei também das goiabas de Nhô Lau das leituras dos meus filhotes!
Ademais, entendi também que, quando eu andar carente de comentários, é só escrever sobre uma instituição brasileira - não estou falando de Instituições mas sim de instituições, de cultura popular e cotidiana mesmo. Ou seja, ainda vou escrever sobre o abraço -hoje e apesar de ter nascido e me criado em uma terra desabraçada, não consigo entender como é que se pode sobreviver sem abraço!!!-, sobre o brigadeiro -este, não vou mentir, dispenso, junto com quase todos os doces da criação, mas entendi há muito tempo que aniversário brasileiro rima com ao menos alguns brigadeiros!!!- e sobre muitas outras coisas que eu não sei ainda!
Voltando às mangas, agradeço desde já suas doações, Raquel, quando o verão chegar!!!

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

AS MANGUEIRAS ESTÃO FLORIDAS!!!

Gente, esses dias vale a pena mesmo virar a cara e os olhos para o alto: as mangueiras da cidade estão floridas!!!

Mangueira já é uma árvore impressionante de linda, mas florida então é um arraso de beleza!!! Você sabia que no Japão, até hoje, a floração das cerejeiras é um dos grandes eventos do ano, simboliza a chegada da primavera, e todos vão aos parques para admirar as cerejeiras em flores! Bem que podíamos fazer isso com as mangueiras, o que acha?

Sou apaixonada por mangueiras em toda época, aliás, gosto de todas as árvores frondosas e a mangueira é uma das mais charmosas.

Gosto muito também de ver a mistura de texturas e cores de suas folhas: as mais velhas são mais grossas e duras e de um verde profundo, ao passo que as folhas novinhas são mais finas, brilhantes -parece que foram envernizadas- e variam do vermelho e do rosa para o verde claro, é uma delicía para os olhos e um contentamento para a alma!
Acho também uma das árvores mais generosas que há: no verão, é manga que não acaba mais! Minha predileta é a espada, apesar dos fiapos que afastam muita gente, o sabor é insuperável!

Enfim, era isso, as mangueiras estão floridas, veja, delicie-se!!!

E para quem quiser ver mais na internet, é bom lançar o nome científico "mangifera indica", sim, a mangueira veio da Índia, bem como muitas outras árvores que identificamos como típicas brasileiras, o coqueiro, a jaqueira, etc.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

COLÓQUIO PRAZER DO TEXTO

OU O EXCESSO, E O PODER, DAS PALAVRAS
Acabou a maratona! É legal, é, nos permite conhecer, ou conhecer melhor, alguns professores e entrar em contato com algumas obras, é, mas é uma maratona!
Não sei se “O Prazer do Texto” é vivido assim por outros participantes, mas, para mim, foi uma maratona: duas palestras de manhã mais duas de tarde, abordando as obras mais variadas...
Parece “A volta ao mundo em 85 dias”, e como visitamos 4 países por dia, em 5 dias, foram quase 20 países! Digo “países” mais para respeitar a analogia com o livro, pois o que sinto é que são mundos, mundos diferentes! E tem mais: é o mundo do autor da obra pintado com as cores do mundo do palestrante, uma vertiginosa multiplicação dos mundos! O popular, em sua pungente sabedoria, bem que o diz “Cada cabeça é um mundo”!
Certas visitas a esses mundos ou países alheios são apaixonantes, outras emocionantes, outras ainda mais para enfadonhas - como não?-, inclusive sem sabermos ao certo se isso tem a ver com a obra ou o apresentador...
Mas o que quero contar mesmo para vocês é que, já no terceiro dia, eu fico com fastio de tantas palavras, enjoada, com estafa, com indigestão intelectual, é palavra demais! Entro em desespero, o sentido esvai-se, sinto-me envolvida e rolada em um grande turbilhão de palavras! E minha sensação é que todas essas palavras têm vontade própria e reproduzem-se loucamente...
Procuro um remédio, um calmante, e não acho nenhum...
Mas sinto saudade...
Sinto saudade de um silêncio repousante...
Sinto saudade dos lacônicos escritos de Heráclito:

“O contrário em tensão é convergente; da divergência dos contrários, a mais bela harmonia.” (Fragmento 8)
“Conjunções: completo e incompleto (convergente e divergente, concórdia e discórdia, e de todas as coisas, um, e, de um, todas as coisas). (Fragmento 10)
As parcas palavras de Heráclito despertam intensamente nossa reflexão, estimulam em nós tanto questionamentos comuns quanto próprios de cada um. Nenhum risco de afogamento em mares de detalhes explicitados, mas que densidade, que profundidade!
Sinto saudade também das enxutas estórias de Nasrudin, o sábio bem humorado do sufismo:

A VERDADE
“O que é a verdade?” perguntou um dos discípulos a Nasrudin.
“Algo que nunca, em nenhum momento, eu falei – nem falarei”.
IDÉIAS FIXAS
“Quantos anos você tem, Mullá?”
“Quarenta.”
“Mas você disse o mesmo a última vez que lhe perguntei, há dois anos atrás!”
“É, eu sempre sustento o que digo.”
Com Nasrudin também, as palavras são poucas mas, se assim nos dispusermos, poderemos, além da primeira impressão humorística - sedutora- das estórias, aprofundar muito nosso pensamento.
Sinto saudade também dos concisos contos tradicionais do mundo todo que, também em tão poucas palavras, já diziam tanto para o intelecto-emoção dos ouvintes... Sou fã de um escritor e contador francês chamado Henri Gougaud que soube reunir belíssimas coletâneas de contos do mundo inteiro e reescrever com maestria todas essas estórias!

Sou também apaixonada por alguns contos do argentino Jorge Luis Borges. Faz tempo que esses livros, volta e meia, estão na minha mesa de cabeceira e suas estórias são de fato companheiras minhas de viagem, de vida!
Enfim, nos ultimíssimos tempos, tenho pensado muito no equilíbrio – sim, a tensão dos contrários do Heráclito-, bem resumido na expressão muito usada por um amigo meu “nem tanto o céu nem tanto a terra”: podemos pensar que, com as palavras também, precisamos ser mais comedidos e procurar portanto viver em alguma ampla região entre a mudez e a tagarelice!

Por fim, não resisto à tentação de deixar registradas as minhas provocações, oriundas deste fastio de palavras.
Somos os mestres das palavras ou seus fantoches? Há harmonia nesta relação?
Será que tem um feitiço das palavras que, envolvendo-o, encantando-o, distrai o homem de seus alvos, o faz esquecer para onde ele quer ir? Lembro-me da conservadora de um pequeno museu francês que dizia preferir não colocar nada escrito perto dos objetos expostos no museu pois senão, a tendência geral dos visitantes, inclusive os mirins, era lerem o escrito com toda atenção as explicações, colocadas ali apenas como suporte, e mal olhar para o objeto exposto em si! Não será esse um bom exemplo do feitiço das palavras?!?!...

Ou esta tagarelice nasceu com a escrita, que tornou possível o registro de imensidões de palavras que a oralidade, mesmo com memórias prodigiosas como houve no passado e ainda há, não sustentaria?
Quem muito fala pouco faz. Será que não poderíamos pensar aqui numa harmonia entre o falar –filho do pensar?- e o fazer, de certo modo entre a teoria e a prática? Não para transformar o filósofo em técnico ou artesão, mas para ele também estar imerso no mundo e nas coisas! Por vezes silenciosamente...

segunda-feira, 28 de julho de 2008

MERLEAU-PONTY E HUMILDADE

A tempo, ou não...
Acabei de assistir a palestra sobre Merleau-Ponty na Aliança Francesa, cuja primeira parte foi a apresentação, nas grandes linhas, do livro A Fenomenologia da Percepção, pelo professor Monclar Valverde. O pensamento do Merleau-Ponty, ao menos na obra apresentada muito rapidamente, parece extremamente próximo de Ser e Tempo de Heidegger, e aparentemente com mais desdobramentos, ou seja, fantástico, fascinante, empolgante, apaixonante! Então, o que quero falar com humildade, é que, na realidade e de repente, o mundo já tem pensamentos novos e vigorosos, mas talvez precise de mais pessoas compartilhando, dialogando com e sobretudo VIVENDO esses pensamentos novos e vigorosos!!! E quero ser uma dessas!!!

E vai ter um colóquio sobre Merleau-Ponty, de 25 a 29 de Agosto, aqui em Salvador, em São Lázaro para as mesas redondas durante o dia, e na Aliança Francesa à noite para as palestras maiores, tem que fazer inscrição!!! Era isso, vamos!!!

ENCONTRO COM A FILOSOFIA

Há muito eu falava em estudar filosofia, acreditando saber do que estava falando... Isso até um ano e meio atrás, quando me tornei efetivamente estudante do Departamento de Filosofia de nossa conceituada Universidade Federal da Bahia, e lá descobri que, como fala o popular, “o buraco é mais embaixo”. Explico: logo ficou óbvio que o que eu achava ser filosofia, ou seja, uma reflexão mais aprofundada sobre tudo, era apenas a parte visível do iceberg!
Se alguém me pedisse hoje para definir a filosofia – pensem num cara mau!-, eu diria, do alto de três enxutos semestres de estudo até aplicado, que a filosofia me fez rever meu conceito do que é o profundo. A busca filosófica mais me parece hoje uma mineração: ela fica cavando as profundezas de suas questões até não ter mais para onde ir. Aqui, e por ter filhos ainda pequenos com os quais assisti várias vezes o filme O Senhor dos Anéis-, me vem a imagem das entranhas das montanhas onde vive o povo dos Anões, extraindo o ouro e outros metais preciosos mas, ao ultrapassar os limites por ganância, também despertando temíveis criaturas há muito esquecidas...

Neste ponto, deixo registrada minha angústia: qual será o perigo, para mim, da filosofia? Não voltar da viagem ao centro do tudo por ter descoberto que lá não tinha nada? Não saber mais a diferença entre a descida ao inferno e a subida ao paraíso, entre o bem e o mal, entre o feio e o belo, entre você e eu, entre o vivo e o não vivo? Não saber nem mais o que quer dizer a palavra “diferença”? Ou seja, perder os sentidos ao buscar o Sentido?
Ou a filosofia me trará algum alívio? Desde que me entendo como gente, sempre tive pensamentos peculiares, dificilmente compartilháveis e raras vezes compartilhados, enfim, uma forma de ver o mundo diferente, digamos, da forma dominante. Senti nestes últimos meses nascer alguma esperança, a de ter mais alguns companheiros de viagem – de viagens?-, sejam eles os autores de obras ou idéias filosóficas tais como Heráclito, Platão, Nietzsche ou Heidegger ou meus pares nas cadeiras da universidade – não adianta insistir, desses últimos não darei nomes!
Voltando à minha ingênua tentativa de definir a filosofia, eu diria que, além de ser mineração, ela também é lapidação. O filósofo que extrair, do labirinto em várias dimensões que é seu pensamento, uma hipótese, uma idéia, uma teoria, terá, por conta da exigência acadêmica aliada aos questionamentos de seus pares, de fundamentar, esclarecer, refinar este fruto de sua intuição e reflexão até deixá-lo tal qual uma gema preciosa lapidada, brilhando de mil facetas!
Mas vamos deixar por aqui essa história de minas, pedras preciosas e diamantes, senão todos vão começar a pensar que, no Brasil, só mineiro que pode ser filosófo!!! Êta, piada besta!!!

Deixo também registrado aqui um receio que tenho quanto ao ensino da filosofia. Os estudantes obviamente precisam tomar conhecimento das obras dos grandes pensadores mas será que a filosofia se resume à história da filosofia? Pois, em momento algum até agora, percebi espaço aberto em sala de aula para discutirmos qualquer idéia própria! Aliás, já ouvi docente dizer em alto e bom tom que ninguém está interessado no que os estudantes pensam: a tarefa seria portanto impregnar-se com pensamentos já confirmados como fundamentais, e só. Então, pergunto: a filosofia é um saber positivo? Estudar filosofia então não passa de uma “decoreba” de conceitos alheios para, no máximo, poder expô-los brilhantemente em um seminário ou em uma tese de mestrado ou doutorado? Minha resposta é um retumbante “Não” pois me parece que, sendo aprendizes-pensadores, não podemos apenas ficar gravando conceitos aristotélicos ou kantianos. No entanto, repito, não se trata de modo algum de descartar estes estudos - nem tanto ao céu nem tanto à terra!-, pois estamos seguros da imensa valia do acesso a outras análises de mundo...
Mas a filosofia, e portanto seu estudo, não é também, como já ouvi dizer e já li em algum texto também famoso, desenvolver um diálogo com estes pensadores famosos? Resumindo meu receio quanto ao ensino da filosofia: somos preparados para sermos meros repetidores, eruditos estudiosos de obras filosóficas, ou existe alguma esperança de podermos um dia dar à luz pensamentos nascidos do vibrante encontro de pensamentos notáveis com nossas humildes reflexões sobre o mundo contemporâneo?



Pois tenho que deixar claro que minha aventura na filosofia nasceu das questões da contemporaneidade, do mal estar profundo que todos podemos perceber em nós mesmos, ao nosso redor e em todo nosso pequeno e grande planeta. E esta crise aguda parece-me clamar por pensamentos novos e vigorosos, outros modos de conceber a realidade, outras posturas e comportamentos do homem com o homem e com o mundo... O fato é que alguma coisa está podre no reino da humanidade e penso que cabe a nós, humanos, tentar desvendar e enfrentar esta crise com todo nosso empenho antes que seja tarde...
E minha última pergunta por hoje, a pergunta central para mim, é esta:
SERÁ QUE A FILOSOFIA PODE NOS AJUDAR?

domingo, 20 de julho de 2008

DICAS PARA RECICLAGEM DE LIXO

Complementando sobre reciclagem de lixo, penso que todo e qualquer pedacito de lixo -papel, plástico, vidro, metal, o que for- que desviamos do aterro sanitário é uma grande vitória! Pense bem: além de não engordar as sinistras montanhas do aterro chamado sanitário, ainda vamos economizar recursos naturais e humanos para produzir outras coisas, incrível, não?
Para nos ajudar nesta nobre tarefa, temos em Salvador várias cooperativas de recicladores de lixo, o figurino manda entrar em contato com a cooperativa mais perto de sua casa para reduzir o custo do transporte, a pesquisa do Google ajuda a localizar as cooperativas da cidade.
Insisto em outro ponto, não são apenas os maiores consumidores que podem e devem reciclar, todos podemos e devemos reciclar: quem de nós não usa sacos de plástico, garrafas de refrigerantes, latinhas, jornal de vez em quando e por aí vai? Então, não importa onde e como você mora, é só você se juntar com os vizinhos para ter um certo volume de recicláveis que aí a cooperativa vem buscar! Eles normalmente fazem algumas recomendações para o lixo não ocupar muito espaço no caminhão, tipo desmontar e dobrar caixas por exemplo, pois o transporte custa caro.
Era isso, e, para concluir, junto minha voz à do Gandhi numa idéia que prezo muitíssimo:
"Sejamos a transformação que queremos ver no mundo"!

ARTE COM TAMPINHAS PLÁSTICAS

Pois é, para início de conversa, concordo: sempre se pode perguntar se é arte... Uns acham arrasador de lindo, outros medonho de horroroso, paciência, sem surpresa, cada cabeça é um mundo, isso, a gente já sabia...
O que eu posso garantir é que, como tudo na vida que fazemos para valer, tem sido uma aventura singela! E esta aventura começa com a pena que eu tinha de jogar fora e de ver jogar fora, sem mais nem menos, as tais das tampinhas de garrafas plásticas de bebidas: eu achava um objetinho redondinho bonitinho, vale dizer que adoro a figura de círculo, mas isso fica para outro escrito. Achava também seu plástico mais encorpado, me parecia concebido para uma vida mais longa, para mais histórias.
Na realidade, muitos objetos no mundo de hoje me deixam assim perplexa com o que fazer com eles depois do uso, de única vez ou múltiplas, para o qual eles foram planejados: cabos de escovas de dentes –particularmente os de plásticos coloridos translúcidos-, corpos e tampas de canetas, papeis de presente, caixas de sapatos, vidros de conservas e todas as embalagens... Penso que todos deveríamos ir ao menos uma vez por ano “visitar” o aterro sanitário de nossa cidade para tomar a medida -a desmedida!- de nosso lixo! Ver na tela da televisão não basta para darmos o estalo, tem que ver com os próprios olhos as montanhas de lixo e sentir com o próprio nariz o insuportável fedor...

O que acontece também é que fico “viajando” na fabricação, de A a Z, de todos esses objetos. No caso específico de minhas tampinhas, quantos operários, engenheiros, químicos, artistas, criadores, designers, marqueteiros, se debruçaram em seus poços de petróleo, tubos de ensaios, pranchetas, monitores, para chegar até elas, redondíssimas, densas, eficientíssimas, quase infindáveis, e também coloridas, atraentes, sedutoras? E toda essa inteligência e matéria prima vão, depois de um único uso, parar no aterro sanitário? Isso no melhor dos casos, porque achei tantas nas ruas e nas praias!!! E aí, onde estiverem, vão demorar séculos para desintegrarem-se? E é isso mesmo? Está tudo bem para todo o mundo? Concordo não!!!

Aí, comecei a pensar em qualquer coisa que se poderia fazer para, ao mesmo tempo, poupar nosso ambiente e salvar algumas dessas tampinhas do esquecimento prematuro. Minha primeira idéia era colar ou pregar as tampinhas numa placa de compensado para formar alguma figura colorida, parecia muito trabalhoso mas, ainda na dúvida, comecei a juntar as tampinhas.
Neste início da caça às tampinhas, arrastei comigo em minha inofensiva obsessão alguns amigos e familiares. Volta e meia, minhas filhas, uma adolescente e a outra quase adolescente, me censuravam ao pegar-me em flagrante de badameirismo nas ruas da cidade: “Minha mãe, se controle” ou “Tá sujésima, esta tampinha!” Meu filho, ainda criança mesmo, curtia a “catação” e apontava para mim os tesouros despercebidos!
Já não me lembro de como veio a idéia de enfiar as tampinhas num fio de náilon, mas lembro que o projeto era fazer uma cortina de porta, como tem de madeira, de sementes, todo mundo já viu uma dessas... Aí teve que ver como furá-las, dificuldade técnica, que foi resolvida com ferro de soldar, esta sendo uma tarefa enfadonha e fedorenta que confesso ter logo terceirizada...
Não tenho como contar a história das artes de tampinhas sem falar de todo o arco-íris de suas cores. As mais comuns são as translúcidas, as brancas e as azul marinho, todas meio sem graça mas ainda assim imprescindíveis para fazer os fundos das mandalas. As vermelhas já são mais raras e também essenciais para dar vida a qualquer desenho, será coisa de cor de sangue? Nessa escala do mais corriqueiro para o mais raro, seguem as aquáticas azul turquesa e as mimosas roxinhas, duas belas cores, refinadas, charmosas, acho que porque mistas de cores chamadas primárias! Confesso que já sofri paixão obsessiva por elas, chegando a usar de sedução com alguns garçons de restaurantes e barzinhos para conseguir alguns preciosos exemplares... Na categoria das mais raras, entram todas as verdes, floresta, rúcula e alface. Aqui, e apesar de envergonhada, tenho que contar que certa feita, cometi o disparate de comprar uma dúzia de fofas garrafitas de refrigerantes só por causa de suas verdes tampinhas! Mas era para uma grandíssima causa: a confecção da bandeira do Brasil para a copa do Mundo de 2006! Vejam a foto e convenham comigo: foram reais bem gastos!

Estamos finalmente nas preciosidades: as cor de laranja e as amarelas que, nas mandalas, darão o imprescindível toque de luz, na bandeira brasileira, nem se fala! As pretinhas são também dificílimas de encontrar e estão entre as minhas preferidas, não por sua cor para as artes mas sim pela divertida cara de gato gaiato desenhada encima!
Então, depois de ter juntado boa quantidade de tampinhas de todas as cores, tive a idéia das mandalas e aconteceu o que considero ser uma pequena mágica: centenas de tampinas à toa, sujando as calçadas, as praias, engordando nossas montanhas de lixo, transformam-se em bandeira do Brasil, em mandalas, em fuxico, em estrela, todas sendo suaves mensageiros do vento para os ouvidos e coloridos ímãs para o olhar!
Toda história tem uma moral, esta também tem. Se nós, humanos, ainda fôssemos ambientalmente corretos, não teria essa produção e consumo desenfreados de tantos sofisticados objetos descartáveis e poluentes, e seria muitíssimo melhor do que tentar reciclá-los... Mas, enquanto ainda somos irresponsáveis com nossa mãe terra, as mandalas de tampinhas dançam, cantam e brilham ao sabor do vento e do sol...

Agradecimentos
Agradeço a todos os amigos que me presentearam com pequenas safras e grandes tesouros de tampinhas, a Alex e Jane que furaram tantas tampinhas para mim, a Karla que montou a primeira cortina gastando o dedão da mão pois a técnica de furação ainda não estava apurada, a Hilda e Jane –ela de novo- que sempre realizaram a montagem das mandalas comigo, ou até “semigo” depois que comecei a estudar, a todos meu muito obrigado!!!

segunda-feira, 17 de março de 2008

Coragem e tempo...

Pois é, criei este blog alguns meses atrás porque queria lançar alguns escritos meus ao sabor do vento mas cadê coragem e tempo?!?!?!
Vai ver, penso demais, nunca fica com cara de concluído, nunca expressa o que quero dizer, mas também como colocar no papel, ou na tela, o labirinto, o caleidoscópio em tantas dimensões que é a vida?!?!?
Mas, de repente, é hoje que o blog está nascendo de verdade e eu nem estou sabendo... Vai ver eu estava grávida dele e agora ele já está maduro para conhecer o mundo...
Mas, por hoje, é só, acho que só foram as primeiras contrações...

Tem uma grande amiga minha que está de verdade sentindo as contrações prévias do parto do primeiro filho, acho que me deixei levar pelo momento dela...
Amanhã ou depois, veremos se este blog finalmente nasceu de verdade, ou não...