quinta-feira, 3 de setembro de 2009

BORBOLETAS...


Tem leves borboletas de papel crepon para enfeitar o quarto...
Tem graciosas borboletas de plástico colorido para prender mensagens...
Tem brilhantes borboletas de metal para colocar no painel...
Tem blusas e meias de borboletas, cadernos e canetas de borboletas, brincos e colares de borboletas, óculos e velas de borboletas...
Enfim, nas lojas, tem borboletas fabricadas para todos os gostos e todos os bolsos...


É porque as borboletas, as borboletas de verdade, as borboletas vivas, são lindas, são belas, são encantadoras, mesmo...











Ou talvez eu deva dizer "porque as borboletas ERAM lindas"...
Porque quase não há mais borboletas...
Porque estamos matando as borboletas...

Como estamos matando as abelhas...
Como estamos matando os ursos...
Como estamos matando os elefantes...
Como estamos matando as baleias...
Como estamos matando e já matamos tantos outros seres...
Como estamos desfigurando e já desfiguramos "nosso" belo planeta...


















Como o planeta permitiu isso?
Como o planeta permitiu que nós, pequenos homens, nos tornássemos tão mortíferos?
Porque o planeta não se defendeu?




Porque o planeta não se defende e não se livra dos homens como nosso próprio corpo humano se livra naturalmente de uma doença?
O aquecimento global bem poderia ser a febre que vem vindo, no ritmo do planeta Terra, para eliminar estes pequenos seres peçonhentos que somos...

domingo, 9 de agosto de 2009

GENTE, SOU FRANCESA!!!

Pois é, demorei, mas agora, eu já sei, sou francesa, e vou contar como descobri...


Deixei Paris há mais de 23 anos, achando tudo um saco, mesmo achando a cidade linda, maravilhosa, deslumbrante, mas não conseguia achar meu lugar alí, ou fazer meu lugar, enfim, dá no mesmo, sentia-me uma estranha no ninho...



Passo os detalhes, que sempre são muitos, e alguns muito interessantes, o mais interessante das histórias talvez, mas enfim, passo, deixei Paris para o Brasil, e as circunstâncias fizeram que Salvador fosse a cidade.

Na época, deslumbrei-me , não tanto com a cidade, que também é linda - podia ser muito mais linda, mas muito mais mesmo!- mas com o jeito de suas pessoas: pela primeira vez na vida - e eu já estava na casa dos 20, encaminhando-me para a próxima casa-, pela primeira vez, me senti fazer parte de qualquer coisa comum aos humanos!
Foi uma revelação, lembro-me de ter escrito isso em todas as longas cartas para os amigos, e era assim: pela primeira vez, senti que todos os humanos, mesmo com todas as suas diferenças ou peculiaridades pessoais, estavam todos em um mesmo barco, e eu também estava no barco, e foram os brasileiros, os baianos, que me fizeram sentir isso!
Na prática, como era isso? Muito simples, como é até hoje: aqui, aqui no Brasil, pois experimentei outras cidades de Norte a Sul, você pode falar com qualquer um, na rua, no ponto de ônibus, no elevador - salvo o elevador do prédio onde moro, pois lá moram pessoas que pensam que o barco delas é outro, certamente mais rico, vai ver algum cruzeiro transatlântico!!!-, na sala de espera, na fila do banco ou do mercado, enfim, parece que não é nada, mas para mim, foi tudo! E até hoje é, apesar da violência que tem assolado Salvador de uns 3 ou 4 anos para cá, e que tem entristecido muito a vida por aqui...
Bem, isto é ponto pacífico, o Brasil ensinou-me que eu era gente, que eu pertencia, ou, ao menos, me confirmou isso, pois era algo que eu sentia profundamente quando morava em Paris, mas tão poucos parisienses confirmaram que não foi suficiente...
Passaram-se os anos, os amores, os trabalhos, e aconteceu que uns dois anos atrás, viajei à França com meus filhotes, "para ver minha mãe no interior", como gosto de brincar para tentar comunicar que a viagem à França para mim está longe de ser tão exótica como o seria para um brasileiro da gema! E aconteceu que o tempo de estada em Paris me pareceu curto, curto demais, tantas coisas eu queria ver, tantos passeios, queria ficar mais, e, na hora de sair de Paris para voltar ao Brasil, chorei, chorei mesmo, com a bola na garganta que todo mundo conhece... Que novidade era essa?!?!?! Em todos esses anos, não tinha sentido saudade da França, o pão não me fazia falta nem os queijos nem os vinhos... Na Âmbar, eu gostava de brincar com os turistas quando me perguntavam por que eu tinha deixado a França "Paris me desanimou da França!..."
Tem uma cena do filme "O Piano" da Jane Campion, uma diretora neozelandesa, que eu gosto muito: é uma cena, lá quase no final do filme, em que a moça que é a personagem principal do filme coloca seu pé dentro das cordas de seu piano que vai ser jogado em alto mar, mas acontece que, quando ela já está sendo arrastada irremediavelmente pela corda para morrer afogada no fundo do mar, um ímpeto de vida, que ela não suspeitava mesmo, a faz livrar-se de sua botina para livrar-se da corda! Ela então soube novamente para a superfície da água e podemos ouvir sua voz gritando de espanto "What a death!... What a chance!... What a surprise!... My will chose life!...", em português "Que morte!... Que destino!... Que supresa!... Minha vontade escolheu a vida!..."
Por que contei isso? Porque foi uma supresa tão profunda assim que eu senti quando me apareceu esta dor de deixar Paris, de ficar longe de Paris e da França, não esperava... Esta dor confirmou-se desde então: saudades das estações, dos lugares, das regiões pelas quais já andei, e muita saudade mesmo dos lugares de Paris... Os parques, as ruas, os edifícios antigos, o Sena, as pontes, os monumentos às suas margens, e também, poder ir e vir mais em paz do que por aqui, poder fazer um pique-nique no gramado de um jardim...


Sim, poder fazer pique-nique é essencial pois os franceses são uma grande dinastia de farofeiros, é farofa de pai para filho, a Disney de Paris quase foi à falência por causa disso, os restaurantes não andavam, todos os visitantes franceses levavam seus sanduíches, e ainda devem levar, eu mesma levo!
E fazer pique-nique no Parc Monceau, este da foto, é puro prazer!!!
Enfim, descobri que eu sou francesa, mesmo!
Recapitulando: o Brasil me ensinou, ou me confirmou, que eu era humana, passageira da barca dos homens, coisa que a França não tinha conseguido confirmar, ou tinha até recusado, e agora, recentemente, a França me lembrou que eu era francesa, como que cobrando o que era dela afinal...
E agora, José? O que fazer com isso?
Quem souber morre", como fala um cara que eu conheço, e confesso que sempre morro de rir, idiotamente, também reconheço minha idiotice...
Mas enfim, voltando à vaca fria, não louca, nem inglesa, mas sim bem francesa, e sensata, vou ter que cuidar disso...

"CORALINE E O MUNDO SECRETO"

Hoje, vou fazer propaganda para um filme infantil que amei!
Chama "Coraline e o Mundo Secreto", e achei realmente encantador.


A história é envolvente - é uma adaptação de um livro de um famoso chamado Neil Gaiman-, lembra as histórias dos filmes japoneses da "Viagem de Shihiro" e do "Castelo Animado", ou seja, nada de água com açúcar da Disney e outras grandes casas de filmes infantis de animação. Tem momentos assustadores, mesmo, mas - psicólogos e outros psicanalistas concordam nisto-, como no final tudo se resolve, podem ficar tranquilos, seus pirralhos não vão ficar traumatizados com o filme, os meus adoraram, como adoraram "a Viagem de Shihiro", quando viram, e eram bem menores do que são hoje!
Os personagens são bem "plantados", bem colocados, convencem mesmo, todos eles.
A música é melodiosa e o visual é refinadíssimo!!!
Mas, mas, mas, o que vocês também precisam ver é o making off de Coraline!!!
É UMA LOUCURA!!!
É uma loucura pois o filme é feito por uma técnica que chama "stop-motion" e, resumindo, é assim: fabricam vários sofisticadíssimos bonecos para os personagens -estrutrura metálica articulada, cobertura de silicone super-flexível, roupinhas sob medidas e por aí vai!- e estes bonecos vão ser manipulados por profissionais que vão tirar fotos de todas as posições necessárias para fazer o filme!!!
Traduzindo, aos milhares de desenhos realizados para os desenhos animados tradicionais, anteriores ao advento do computador, correspondem, nesta técnica, milhares de fotos!!! Os milhares de desenhos, já era loucura, mas deste jeito, fica ainda mais trabalhoso, mais profissionais envolvidos, mais técnicas, mais materiais, enfim, mais loucura!!!
Confesso que eu fiquei impressionadíssima por esta descoberta e ainda estou na dúvida se tendo mais para pensar que é loucura técnica ou se é artesanato moderníssimo, pois tem muitos artistas/artesãos trabalhando no filme!!!
O diretor do filme, um famoso chamado Henry Selick, argumenta que é graças a esta realidade dos bonecos e dos cenários, graças a este requintado artesanato humano, que o filme tem a realidade que tem, antes e além da qualidade plástica.
Não sei se é bem assim, mas o fato é que o filme realmente encanta!
Enfim, o convite está feito:
"CORALINE E O MUNDO SECRETO"
Aluguem, ou comprem logo, vale a pena,
e assistam, com seus filhos, para quem tem filhos!

PS: No Youtube, vocês encontram vários trechos do filme.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

NOVAS MANDALAS E VELHA BANDEIRA DO MEU CORAÇÃO...


Hoje, quase que só imagens...








Para lembrar que reciclar é preciso, que reusar é preciso, mas que o ideal seria não produzir tanto, não consumir tanto, não desperdiçar tanto...











E dizer, e mostrar, que, enquanto esta febre não baixar, farei mandalas de tampinhas de refris...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

GRAVÍSSIMA PERGUNTA...

Teve uma época, já um tanto distante, em que não se sabia que certas coisas eram nocivas para a vida na terra.
Quando falo "certas coisas", penso nos hoje chamados agrotóxicos, nos dejetos de algumas indústrias, em muitos medicamentos alopáticos, nos gases de escapamentos de carros e outros veículos, nos cigarros -os fumantes que me perdoem...-, nos conservantes alimentares e outros corantes, etc. Etc pois com certeza esqueci alguns...
Quando falo "vida na terra", penso nas nuvens, nas águas, nas terras, nas pedras, nos verdes, nos bichos e nos homens. Acho que não esqueci de ninguém!...
Não se sabia que essas coisas eram nocivas para a vida na terra porque esta nocividade é invisível.
Mas aos poucos, com a ocorrência de mortes, malformações, doenças e distúrbios, tornou-se evidente que todos esses produtos eram perigosos, alguns até letais.
Minha pergunta é: enquanto não sabíamos que todos estes produtos eram nocivos, eu entendo que fossem usados por nós, mas agora que sabemos, e isso já faz tempo, por que ainda estão sendo usados e, ainda por cima, usados maciçamente?!?!??!?!??!?!??!
Quem tiver uma ponta de resposta, me diga!
A quem vier me falar em dinheiro, vou dizer que não, que não é possível que se coloquem na balança mortes, malformações, doenças e distúrbios de um lado e dinheiro do outro!
OU ENTÃO FICAMOS LOUCOS!
LOUCOS E PERIGOSOS!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

PASCAL REVISITADO...

Recentemente, um professor nosso citou a chamada "aposta de Pascal". Fui ao texto dos Pensamentos de Pascal mas não estudei, ainda assim vou me atrever a dizer o que foi essa aposta, espero não fazer muita barbeiragem filosófica.
Pascal, Blaise para os íntimos, foi um filósofo francês do século XVII. Não entrarei muito nos detalhes, mas o ceticismo estava à solta, de mãos dadas com o ateísmo.
Na época, da observância das regras religiosas durante a vida terrena dependia o merecimento da vida eterna da alma. Pascal acreditava profundamente em Deus mas considerava que não tinha como dar provas cabais da existência de Deus pois a seu ver, tudo que tem a ver com Deus é uma questão de fé.
Pascal então, preocupado com a alma de seus semelhantes ateus e com sua vida eterna, encontrou, para convencê-los, um argumento tão interessante que ficou famoso até hoje como a "aposta de Pascal".
Apostemos, disse ele, que Deus existe e levemos então uma vida terrena na observância dos princípios religiosos. Na hora de nossa morte, se Deus realmente não existir, tudo bem, nossa alma não terá vida eterna, não teremos perdido nada e ainda teremos levado uma vida virtuosa. Mas se Deus realmente existir, então teremos merecido a vida eterna de nossa alma! Mesmo com dúvida, vale a pena investir! Afinal de contas, não é tão difícil assim ser virtuoso...
Pois então, com toda a modéstia, estou propondo para o momento atual uma aposta parecida: ninguém pode dar provas cabais de que o mundo tenha algum sentido e, embora a descrença esteja à solta, ninguém tampouco pode garantir que ele não tenha nenhum.
Apostemos então que o mundo tem realmente algum sentido! Teremos tudo a ganhar pois acreditando neste sentido do mundo, por embalo, daremos sentido a nossas vidas que dele se encontram carentíssimas. Ainda por embalo, e por algum efeito "bola de neve", de repente, o mundo que talvez não tivesse sentido antes de nossa aposta, pode vir a ter este sentido que encontramos ou colocamos nele!!!
E tem mais: esta aposta não é para a vida eterna da alma, é para a vida terrena, aqui e agora, a vida em vida! Gostaram?
Então mãos à fé, é só começar!!!...

domingo, 26 de abril de 2009

PSICANÁLISE DOS CONTOS DE FADAS

O negócio é compartilhar.
Bettelheim, famoso psicanalista norte-americano de origem austríaca, escreveu em uma nota de rodapé na página 108 de sua interessantíssima "Psicanálise dos Contos de Fadas" -recomendo a leitura, nem que seja em diagonal-:
"Dar aos processos interiores nomes em separado -id, ego, superego- transformou-os em entidades, cada uma com suas próprias propensões. Quando consideramos as conotações emocionais que esses termos abstratos da psicanálise têm para a maioria das pessoas que os usa, começamos a perceber que essas abstrações não são tão diferentes assim das personificações do conto de fadas. Quando falamos do anti-social e irracional id empurrando o fraco ego, ou do ego obedecendo às ordens do superego, esses símiles científicos não são muito diferentes das alegorias do conto de fadas. Neste, a criança pobre e fraca se defronta com a poderosa bruxa que conhece apenas seus próprios desejos e age segundo eles, sem ligar para as consequências. (...)
Muitos erros de compreensão de como nossas mentes funcionam poderiam ser evitados se o homem moderno se mantivesse sempre consciente de que esses conceitos abstratos não são mais do que instrumentos convenientes para manipular idéias que, sem tal exteriorização, seriam muito mais difíceis de serem compreendidas. Na realidade, não há, é claro, nenhuma separação entre eles, assim como não há efetivamente nenhuma separação entre corpo e mente"
O grifo é meu...

O que mais me encantou na leitura da "Psicánalise dos contos de fadas"?
A idéia central do livro, seu refrão.
E a idéia é essa: que um conto, ou melhor, contos, fazem o jovem ouvinte ativo, ao passo que a explicação o faz passivo.
Isso porque a explicação é fechada em si, é didática, pretende saber, pretende ensinar uma solução já pronta, preparada por outra(s) pessoa(s). O conto, por sua vez, é aberto para uma busca pessoal de quem escuta a história, para toda e qualquer interpretação, que pode inclusive, e vai, ser diversa a cada escuta.
Esta idéia central é ilustrada e declinada ao longo do livro e, por conta desta essencial diferença, Bettelheim considera que os contos de fadas são o que há de mais apropriado para as crianças construírem inconscientemente seu equilíbrio psíquico.

Bem, logo eu, que adoro contos, só podia adorar esta idéia, não é?
E aí, também fiquei matutando se gente grande também não estava precisando de contos, para ativar um pouco a psiquê.
Sabendo que, até pouco tempo atrás no mundo inteiro -e até hoje em alguns lugares deste nosso mundo, lugares onde talvez ainda não haja televisão nem computador-, era costume gente grande, e pequena, se juntar para ouvir "causos", histórias, contos, ouvidos centenas de vezes e sempre repensados.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

DEPRESSÃO...

Se a depressão acometesse uma pessoa ou outra, raras, poderíamos dizer que é um problema puramente pessoal, psicológico puro, por assim dizer, mas não é o caso...

Se a depressão atingisse apenas mulheres, ou apenas homens, apenas jovens, ou apenas velhos, apenas pessoas morando em cidades, ou apenas quem mora no campo, apenas os financeiramente abastados, ou apenas os economicamente carentes, apenas pessoas do chamado primeiro mundo, ou apenas as do segundo ou do terceiro, poderíamos dizer que se trata de um problema de gênero, ou de faixa etária, ou socioeconômico, ou regional, mas não é o caso...

A depressão hoje atravessa todos esses grupos que acabamos de citar, ela varre o mundo, de norte a sul e de oeste a leste, cobre gêneros, idades, classes sociais, regiões geográficas, não poupa ninguém...

Por isso temos que pensar hoje a depressão em termos de mal estar mundial.

Temos que pensar em que raios estará faltando neste nosso mundial modelo contemporâneo de vida que esvazia de sentido a existência humana.

Esta é uma tarefa premente e desafiadora.

Esta é uma tarefa de pensadores.

sábado, 21 de março de 2009

O LOGOS...

Pois é, não deu outra, a palavra grega aristotélica que é comumente traduzida por "definição" é "logos", uma palavra das mais importantes, não vou aqui desenvolver nenhuma tese comprida, mas não há dúvida, nada a ver com "delimitar"...
Para muitos, a significação de "logos" limita-se à razão, ao racional, mas para alguns outros, o "logos" é como que o grande princípio orientador de todas as coisas do mundo, de tudo o que existe, a "arché" da "physis", este princípio que era buscado pelos pensadores gregos dos séculos VII e VI a.c... Confesso que, para mim, às vezes fica claro e outras vezes fica bem obscuro mesmo...
Interessante, até mesmo instigante, é observar como a palavra "definido" que, ao nascer, quer dizer "delimitado" vai aos poucos, insensivelmente, mudando de sentido, para chegar a encerrar o sentido de "exato" e/ou "preciso"...
Às vezes, penso que temos palavras demais, que é como se uma única e mesma língua tivesse virado uma pequena Babel pois afinal, tantas origens, tantas misturas, tantas influências, tantos acréscimos acabam criando inúmeros pares de palavras com o mesmíssimo sentido mas caras diferentes, como "transformação", que veio do latim, e "metamorfose" que veio do grego, que ambas querem dizer "mudança de forma", este é um entre milhares de exemplos... Ao lado disso, muitas palavras gregas eram "apenas" flexões verbais ou nominais, mas em português, ou em francês, elas viraram palavras de verdade, ou então passaram a ser introduzidas por preposições, um bocado de palavrinhas intermediárias, ou seja, a língua foi inchando, inchando, bem diferente da cara compacta, enxuta da língua grega. Ia escrever "concentrada" mas esta é outra palavra que foi mudando, e muito, de sentido: na origem, ela nos fala de centro e de ligação com este centro, e, quando olhamos hoje, a palavra também e na maioria das vezes, quer dizer "de alto teor", "de alta densidade"...
Estudando outro dia um texto de Lucrécio, que foi um epicurista romano do século I a.c., surpreendi-me com um comentário do mesmo dizendo que o latim não tinha palavras para falar de coisas abstratas, conceitos, e bebeu muito às fontes gregas para suprir isso que era sentido como uma carência, interessante, não?
Bem, cansei de pensar...

quinta-feira, 19 de março de 2009

PENSANDO NA DEFINIÇÃO

Este devaneio será apenas um começo de uma reflexão.
"De-fini-ção", "de-termina-ção" são palavras que inicialmente expressaram a vontade de fixar o fim, o término, ou seja, os limites das coisas, e das palavras correspondentes.

Segundo o dicionário francês Le Petit Robert, o Robertinho para os íntimos, a palavra "définir" aparece por volta de 1100 e vem do latim "definire"
Pretendo em seguida pesquisar, com a ajuda de Aristóteles, qual palavra grega antiga é normalmente traduzida por "definição", mas, lembrando vagamente algum estudo da Metafísica, aposto, desde já, que mesmo em Aristóteles, esta palavra grega antiga nada tem de limites, lembro-me de algo como "o que se fala sobre", o que seria bastante distante de "definir"...

Mas enfim, o que as palavras "definir", "determinar" me evocam seria que, ao tentar enxergar e fixar os limites, a extensão, de uma coisa e da uma palavra correspondente, neste mesmo e exato movimento, aprisionamos tanto esta coisa quanto esta palavra, as engaiolamos, as congelamos, as petrificamos, as matamos de certo modo... Loucura minha este pensamento?...

Mas a língua é viva. Quem tem um mínimo de carinho com a língua sabe o quanto ela muda, o quanto ela pode ser séria e brincalhona, o quanto ela diz umas coisas e cala outras, enfim, viva, ela é viva.

E será que não é loucura querer encaixotá-la em dicionários e gramáticas? Será que não é fazer de conta que ela não muda a cada instante, em cada lugar, a cada fala, ela se reinventa, como o mundo? Será que dicionários e gramáticas não são de certo modo os caixões deste vigor da língua?

Volto em breve para contar da palavra grega antiga que foi posterior e geralmente traduzida por "definição"...
Assinado: A coruja louca

terça-feira, 17 de março de 2009

O PASSEIO NA CENTENÁRIO, OU VAMOS INVERTER?

Pois é, sempre gostei das árvores da avenida Centenário, variadas, muitas frondosas, anciãs, viçosas, florescendo fartamente, com caras de árvores felizes, isso é bom, me faz bem!










Eu passava de carro e sempre apreciava a paisagem, en passant... Volta e meia, gostava de andar na parte alta, nem sei o nome da rua, mas fica abaixo da Martagão Gesteira, do lado direito no sentido Shopping Barra. Um dia também arrisquei andar no passeio da própria Centenário mas quase logo fiquei atordoada pelo barulho e pela velocidade dos carros, experiência angustiante que não quis repetir nunca mais! Isso é mesmo incrível, como o ponto de vista pode mudar em tudo a experiência: dentro do carro, uma tranquila e prazerosa paisagem descortinando-se, fora do carro, um ameaçador inferninho de zoada e agitação... Ao meu ver, esta pequena experiência também mostra o quanto nossa cidade é dos donos de carros, e o quanto os não-donos de carros são esquecidos por inteiro...

2008: obra na Centenário! Havia real necessidade de obra pois toda chuva maior alagava a avenida a ponto de torná-la intransitável, um verdadeiro desastre! A foto vai nos ajudar a lembrar.











No pacote da resolução deste baita problema de alagamento periódico, vem a transformação da área, do Hospital Santo Amaro até a orla, passando pelo Chame-Chame - Shopping Barra nos dias de hoje-, em um espaço de lazer, com pracinhas, banquinhos, brinquedos infantis, ciclovias e vias de caminhada. Vamos lá então! Encana-se e cobre-se o rio que já tínha virado esgoto graças à irresponsabilidade dos homens -nós!-, raspam-se as encostas, que ficam quase na vertical -as árvores que se segurem!-, para alargar a avenida de vale. Obra realizada a toque de caixa, tempo é dinheiro, especialmente em anos de eleições... Para quem já assistiu o filme O Senhor dos Anéis, ficou parecidíssimo com o canteiro de Saruman, o mago mau, preparando-se com toda a intensidade para a batalha final.

O resultado, convenhamos -e olhe que sou cricri-, ficou bonito: as árvores parecem ressair mais, ficaram como que mais visíveis, enfim o olho gosta.

Mas algumas perguntas ecoam: e o rio? Mesmo sabendo que era esgotoso, eu fico pensando nele lá, aprisionado nos tubões de concreto... E a água para a sede das árvores, das gramas e dos passarinhos? Pois é, alguma coisa do rio esgotoso eles deviam aproveitar, com certeza, e não foi colocado nenhum ponto de água alí, nem regadores automáticos, estranho, imagino eu que por medo da depredação. Ou seja, precisa de um carro-pipa para servir água para esta natureza viva, muita água neste nosso verão tórrido...

Tem também as falhas logísticas óbvias: canos estreitos para comportar as "chuvinhas" do inverno soteropolitano -uma chuva grossa, que não era nem de inverno, deixou o supermercado alagado, mas, Carnaval já passou, já estão reformando a reforma...-, terreno mal compactado em vários lugares que, em tão pouco tempo, já estão afundando e entortando, falta de passagens para pedestres -tem lugares em que a gente se sente presa numa ilha, uma ilha nada deserta!-, sanitários fechados...

Pontos positivos: muitos pedestres têm usado as novas vias para transitar entre o Hospital Santo Amaro e o Shopping Barra; tanto na entrada do bairro do Calabar quanto perto do Shopping, algumas pessoas têm levado os filhos para brincar e andar de bicicleta, melhor quando a guarda muncipal está aí, para proteger de roubos dos poucos e pequenos bens, tipo celulares.




















Enfim, contei depressa a história, o antes e o depois, alguns detalhes, mas o que eu queria mesmo dizer é que NÃO MUDOU NADA!!!
O barulho e a velocidade dos carros continuam os mesmos, ou seja, continua sendo muito mais uma paisagem para ser vista das janelas fechadas dos carros pelos donos dos mesmo...
E é aí que vêm minha pergunta e minha proposta: vamos mudar?
Vamos sonhar uma nova ordem das coisas?
Vamos resgastar o rio, limpá-lo pois rio esgotoso gera profunda tristeza, e vamos cavar um buraco para colocar um tubo bem grandão para os carros, assim a zoada e a agitação ficarão encanadas!!!
PODEREMOS FINAL E TRANQUILAMENTE VIVER AS ÁRVORES!!!




















*
As fotos da Centenário antes da reurbanização foram copiadas do site
http://www.vitruvius.com.br/minhacidade/mc122/mc122.asp, as outras, como sempre, foram garimpadas pela internet.

domingo, 18 de janeiro de 2009

AMO A PRAIA DO PORTO DA BARRA!!!

Digo isso com tanto entusiasmo porque fui hoje de manhã cedo, queria chegar às 6 da manhã, mas, que peninha, não ouvi o toque do celular, acordei às 6 e meia, ou seja, no máximo às 7 eu estava lá, com um copo de gostoso mingau de milho na mão...
Sabe um lugar perfeito? A praia do Porto da Barra é um deles!
E cedinho assim, parte da praia e da água ainda na sombra dos prédios da rua e dos oitizeiros centenários, é mais que perfeito!
Deixei minha bolsa com uma senhora e o filho que estavam sentados na sombra e fiquei uma curta hora, literalmente no nirvana, tudo bom demais: a água friazinha e calminha, o sol ainda não tão inclemente, as poucas nuvens voando no céu ao lado de um magrinho e desbotado crescente de lua, pouca gente ainda, que delícia!
Fiquei nadando, milhões de vezes melhor do que exercitar-se numa academia, e boiando, braços e pernas abertas, sentindo e ouvindo o mar para baixo e olhando para o céu, me sentindo uma pequena bateria finalmente colocada em seu carregador...

Aí, agora em casa, de leve porque fiquei mais leve depois dos mergulhos, mas ainda assim, fico sem me entender: moro tão perto deste lugar paradisíaco e vou tão pouco, será o quê, heim? Será que é moleza, preguiça, falta de disciplina, falta de tesão, medo de ser feliz?!?!?!? Ou será a amnésia dos dias de hoje?!?!?!? Sim, essa estranha amnésia que só atinge as coisas boas e simples da vida... Essa cruel amnésia, sombra talvez de uma memória sufocada de responsabilidades, de compromissos, de tarefas, de coisas sérias para fazer...
Está dito, vou tratar da minha amnésia, digo, da minha memória, urgentemente, será uma meta para 2009, pois ter um presente dos deuses ali, a 10 minutos de casa andando e não ir desfrutar ao menos duas ou três vezes por semana, já é doença grave!!!
Nos encontramos lá, no paraíso da praia do Porto da Barra!

sábado, 17 de janeiro de 2009

POLUIÇÃO VISUAL...

Pois é, vou tentar explicar o que sinto, tentar ser clara...

Meu olhar se cansa do tanto de informações que o assediam nas ruas da cidade, em casa, na mesa, e não estou falando de informações sobre o mundo, tipo telejornal, não, estou falando em escritos, marcas, nomes, números, logomarcas, imagens. Todos os produtos das indústrias, inclusive alimentos, vêm em caixas, frascos, papéis, e todas essas embalagens levam nome, logomarca, cores, explicações... Nas ruas, a mesma coisa, na televisão e no shopping nem se fala...


Não sei se outros humanos sentem assim, mas além do meu olhar que fica como que atulhado , logo é o meu pensar que fica com estafa, e, o pior de tudo, acho que meu próprio viver fica poluído, e fico com vontade de gritar MEEEEEEENOOOOOOOS!!!!

Será por isso que muita gente precisa sair da cidade para refazer as energias? Para despoluir o olhar, o pensar, o viver? Para resgatar a esquecida simplicidade da vida?


Let me be among trees and winds
Among birds and bugs and butterflies
Among waves and rocks
Among clouds and stars
Among moons and suns
Among earth and skies
Let me simply be




Vez ou outra, tenho um acesso desses, uma língua me chama, e hoje não censurei...



Penso que vivemos entupidos de informações visuais desnecessárias e que, como tudo, isso há de acabar um dia. E tem mais: espero estar viva ainda nesse dia para saborear, com o olho e o pensamento, a leveza e o frescor de paisagens analfabetas...

SAUDADES...

Eta, bloguinho abandonado, jogado às traças, coitadinho...
Vou alimentá-lo um pouco, afinal as agonias do final de ano já se foram, estou de recesso da faculdade, filhotes em colônia de férias, ânimo, vamos nós...
Volta e meia, me perguntam, na pousada ou em outro lugar, e recentemente me perguntaram "E você tem saudade da França?"...
Até algum tempo atrás, respondia tranquilamente, aliás, com algum entusiasmo: "eu não!"
Mas mudou, algo mudou, tudo muda, c'est la vie, c'est le monde...

Agora, posso dizer "sim, tenho saudade" e o pior é que podem ser saudades de coisas que nem mais existem por lá, mas vamos por partes...

Uma das coisas que eu mais sinto saudades são os longuíssimos dias do verão, com o sol se pondo por volta das 8 ou 9 horas da noite -ou deveria dizer da tarde?-, o céu permanecendo claro até umas 11, 11 e meia, uma PU-RA DE-LÍ-CIA!!! Sinto saudade, sim, dessas noites de verão que são dias, me parece hoje um filme em câmera lenta, especialmente comparando com o quase sempre igual pôr do sol de Salvador que acontece a toque de caixa, ai de quem fecha os olhos por dois dois minutos, era dia, já é noite... Pois é, sinto saudade desses dias imensos, quase sem fim...

Outra coisa que sinto muita saudade de uns tempos para cá, talvez mais tempo ainda, são as flores de lá, as flores da primavera, a primavera, "muguet", "lilas", pequenas "anémones" e violetas silvestres, "jonquillles", "giroflées", e tantas outras que não lembro agora... Sinto saudade sobretudo de seus cheiros, uma saudade dolorida, parecida com um despenhadeiro, com uma ferida... Seguem retratos de algumas, muito infelizmente sem cheiro...

Este é o "muguet", ele é típico do 1o de Maio na França, dá sorte, tem um cheiro delicadíssimo, delicioso, demais... Ele também surge espontaneamente em muitas florestas de clima fresco, é lindo!



Essas são as "jonquilles", elas gostam de lugares frios e saem com os primeiros sinais da primavera, os primeiros raios de sol um tiquinho mais quentes, e florescem assim mesmo, espontaneamente e podem fazer este lindo tapete que estão vendo aí, com pano de fundo do ator principal desta foto surrupiada na imensidão colorida da internet...

Essas são as violetas, silvestres também, lindas, elas nascem em muitas regiões, sempre na sombra de alguma outra vegetação, seu cheiro também é maravilhoso, alguns gostam de comer algumas, e existem balas de violetas, cultivadas dessa vez, envoltas em açúcar!










Os lilases, tem branco, lilás mesmo, e rosa... Sei que estou me repetindo mas seu perfume é encantador e, como é um arbusto grande, quem não tiver dó e colher algumas flores pode fazer um buquê enorme, literalmente uma brassada deles, é demais!










Mais umas silvestres, as "anémones", tinha tantas, e de todas as cores, tudo em tonalidades pastel, lilás, brancas, rosinhas, amarelinhas, elas apareciam com a primavera e enchiam o pequeno atalho que eu pegava até o ponto do ônibus para chegar até o colégio quando era adolescente... Pois é, para cada flor dessas, tenho buquês de lembranças que me chegam....

No meu atalho, tinha morangos silvestres, como esses da foto, deliciosos...





Já que estamos em plena saudade, vou fuçar uma foto da cidadezinha onde estudei da 4a série até o 3o ano, e onde morei do 1o ao 3o ano, chama Le Vigan, fica numa região muito linda, parecidíssima com a Chapada Diamantina, rios e velhas montanhas, muito verde, muito passarinho, pouca gente, lá vai...
Este é o cartão postal da cidade, a ponto medieval, é linda apesar de que hoje em dia, o belo rio que passa embaixo está bastante poluído, coisas do mundo...
Mas enfim, chega da saudade por hoje, um beijo, um queijo...